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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

E se fosse real?

Era pleno verão. O céu estava azul e havia um sol pra cada um.
O mar estava como devia estar e pelo menos pra mim, como sempre era: perfeito.
Não havia nada pra me preocupar além de tentar fazer a grana durar e passar protetor solar. Estava sem meus pais mas com meus tios e primos, por isso pretendia manter longe qualquer romance ou "travessura".
Além disso, os dias estavam tão exaustivos que não conseguiria fazer muito disso. Foi quando eu o vi. Eu estava indo tomar banho depois de um dia cansativo e cheio de água do mar.
Ele vestia apenas uma bermuda que juraria preta, mas que poderia ser tanto azul quanto vermelha. Carregava uma toalha ao ombro,por isso, deduzi brilhantemente, que tomaria banho também.
Deixei o sabonete cair, impressionada e desajeitada.
Agora, poderia simplesmente dizer que ele veio e o pegou, o sabonete quero dizer, entregou-o a mim e foi amor a primeira vista.
Quem dera, mas seria uma mentira deslavada e bem suja. Ele sequer me notou.
Também seria insincero achar que foi amor á primeira vista de minha parte, apesar de ter sido exatamente esse o meu pensamento na época.
A próxima lembrança que tenho dele é quando ele me notou. Ou ele tenha notado só que eu o notava. Francamente, tudo é tão etéreo e só em minha lembrança que me pergunto como realmente foi.
Mas pra mim, ele me notara. Nossos olhares se esbarravam no acampamento e onde estivéssemos.
Uma vez ouvi o pessoal que estava com ele dizer o nome dele. " Não acredito que ele está tão grande. Parece um homem já! Tem 14, não tem? -mais ou menos a minha idade na época-
Perguntaram à mãe, que afirmou e disse algo como passar no Rio antes de ir pra Niterói.Parou por aí as informações sobre ele.
Penso que isso foi na noite de reveion. Sim, sim. Foi um dia bom pra nosso, se assim o posso chamar, "romance".
Trocamos nossas primeiras e lamentavelmente últimas palavras. E mais lamentavelmente ainda, estas foram apenas " Feliz Ano Novo!".
Aliás, não teve sequer abraço de congratulações, foram ditas de longe e dirigidas também à mãe dele.
Mais aliás ainda! ( se o correto português me permite dizer) troquei mais palavras com o pai dele, algo sobre como era um pé no saco aqueles pernilongos enquanto escovava dente nas pias compartilhadas.
Realmente, patético! Mas marcou aquele olhar. Tudo bem que o resto também, a boca, o corpo, os cabelos quase loiros e afins.
Porém, em especial o olhar. Não que os seus olhos fossem singularmente verdes ou azuis, eram cor de avelã como os meus.
Lembro do último olhar. Estava sentada cercada de malas esperando o barco pra sairmos da ilha e ele passou. Trocamos um longo e demorado olhar, como se soubéssemos que não iríamos nos ver nunca mais. Fui embora. Realmente, nunca mais nos vimos. Mesmo assim, levo comigo aquele olhar.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Poesia de um bêbado fã da xuxa

Faca e foice,
sangue e medo.
Já era tarde da noite,
não é sempre que a morte pede segredo.

Faca e açoite,
mamão e uva.
Já era tarde da noite,
não é sempre que se faz uma salada de fruta.

Eles dizem que o sol aquece a alma,
eu digo que o macaco só fuma.
Quem tá feliz bate palma,
Quem tá feliz diga bunda!

Ps: Criança feliz, eu sei. uu'

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

" Parecia inofensiva, mas te dominou. "

Chegou em casa às três da matina. Estava na casa de J, mas tinha acabado. Precisava de mais. Achou que tinha na geladeira um restinho. Engano seu. Procurou nos armários da cozinha, nos potes pra guardar biscoitos e até no quarto de seus pais. Nada. Foi ao seu quarto, abriu as gavetas e as portas com raiva, atirou roupas e coisas pro ar. Procurou. E mais NADA. Tinha certeza de que tinha um pacote em algum lugar... Aaah, devem ter sido eles! Consumiram t u d o! Sabiam que ela precisa. Estava ficando nervosa: como podiam fazer aquilo com ela? Talvez fosse por isso mesmo. Quem sabe não só jogaram fora? Se animou. Procurou em todas as lixeiras. Logo a casa estava toda revirada, mas nem sinal do seu objeto de desejo. Tinha que tê-lo. E tinha que ser AGORA. Saiu pra comprar mais. Pegou o carro, tentou abrir o portão com o controle. Nem se moveu. Teria que ir a pé. Andou, andou e andou. Tudo fechado. As ruas estavam desertas. O vento gélido passava e seus iuvos soavam como fantasmas em dia de holloween. Um armazém, enfim algo aberto. Entrou. Atrás do balcão estava um homem de aparência mórbida e cabelo gorduroso, como se não o lavasse há umas semanas. Mas não importava. Ia conseguir mais. Sentiu a empolgação tomar conta. Respirou fundo, tomou coragem e perguntou: Moço, tem amendoin?