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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Porta aberta

Senti saudade, vontade de voltar. Fazer a coisa certa: aqui é o meu lugar. Mas sabe como é difícil encontrar a palavra certa, a hora certa de voltar. A porta aberta, a hora certa de chegar. Eu que não fumo, queria um cigarro. Eu que não amo você, envelheci dez anos ou mais nesse último mês. Eu que não bebo pedi um conhaque, pra enfrentar o inverno que entra pela porta que você deixou aberta ao sair.

[ Humberto Gessinger ]

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Na guerra rumo a paz

Eu não acredito em paz.
Assim como não existe a felicidade eterna ou sofrimento eterno.
É ingenuidade pensar que existem extremos que se excluem.
Não se separa as pessoas em boas e más, e nem há paz sem ter tido guerra.
A realidade é muito mais cruel, pois senão
se segrega os antagonismos não há justiça plena.
O mundo está constantemente em guerra, e é isso que motiva a luta pela paz.
Só quando se perde é que se dá valor e esse clichê se aplica
em razão da falta de consciência que arremata
todos que vivem nessa utopia de perfeição.
Vê-se no caso da Guerra Fria, a corrida armamentista por bombas nucleares
foi o que salvou o mundo de uma completa destruição.
As mazelas humanas acarretam perjúrios de intenso impacto,
guerras são causadas pela ambição, inveja e falta de amor ao próximo.
Simultaneamente, são as virtudes que impulsionam o caminhar,
na qualidade de uns é que se inspira a aspiração por algo melhor.
Pessoas unidas em protestos pela fé em dias melhores,
a união e aproximação de povos em busca de esperança.
Deve-se primeiramente, dar o exemplo.
Para conseguir convencer alguém não se deve usar apenas palavras,
suas atitudes não podem te contradizer.
Deve-se haver a conexão, a união de pessoas é o que faz se importar
e conhecer outros pode dizer muito sobre você mesmo.
Deve-se instituir valores, aquelas virtudes as quais se apoiarão
os pilares dos governos e de cada cidadão.
Deve haver interesse, já que se deve guardar os guardiães
e a corrupção também recai sobre aqueles que não a denunciam.
Muitas são as possibilidades de se buscar, mas acreditar é que nos mantém,
pois se não muda pra que tentar?
Enfim, o caminho é longo, a estrada é difícil e a certeza é intangível.
Porém a fé por um mundo melhor é o que faz a estrada valer a pena.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ballon anacronism


Era uma vez um balão. Não tinha uma cor definida.
Parecia azul claro e às vezes,
quando se olhava contra a luz, jurava verde.
Ninguém mais era assim, eram vermelho, amarelo, preto,
branco, roxo, verde, rosa, azul, ou até cintilante.
Viviam num lugar escuro, sujo, cheio de ratos.
Talvez estoque de loja ou super mercado.
Balão não gostava, tinham que sussurrar e nada cheirava bem.
Passaram tempos e tempos,
não sabia ao certo, afinal balões não sabem contar.
Até que tiraram-nos dali.
Havia luz e sombras, sons e cheiros inusitados.
Alguém fez tudo sumir e só as sombras ficaram.
Havia movimento também e logo chegaram
a outro colorido e engraçado lugar.
Com coloridas e engraçadas pessoas.
Sentiu-se voando, pousou em um chão frio.
Todo mundo começou a ir até a boca
das coloridas e engraçadas pessoas.
E inchavam. Ficavam grandes, gordos e levinhos.
O balão continuava no chão frio.
Algumas vezes tentaram pegá-lo e achar uma utilidade.
Mais chão frio. Será que era tão esquisito assim? Inútil?
Pra que o teriam feito daquele jeito?
Nunca ia ficar bonito, gordo e levinho como os outros?
Não tinha respostas. E como teria, era só um anacronismo.
Ficou murchinho. Sentiu dor.
Ah, foi só porque o chutaram fora do caminho.
Ficou escuro de novo, tinha barulho. Muito barulho.
Aparentemente, era aniversário de alguém.
E nem pôde bater palmas no parabéns, não tinha mãos.
Queria chorar, mas não tinha lágrimas. Dormiu.
Estava claro, depois escuro.
A bola amarela e brilhante subia e descia
para dar lugar a bola branca e pálida.
Era dia, tinha certeza. Mas ficou noite. E depois dia de novo.
Olhava para uma cara sorridente. Ficou noite de novo.
Percebeu que era apenas o abrir e fechar da mão da cara sorridente.
Ia jogá-lo num lixo? Ai de mim com mãos pra socá-lo caso fosse.
Se bem que se contentaria apenas com pernas para fugir.
De repente começou a abrir-se e coisas passaram para o seu interior.
Ficou gordinho mas não levinho. Ao contrário, ficou pesado.
E então a cara sorridente levou-o a boca.
E soprou e soprou e soprou. Ficou gordinho, levinho e pesado.
E algo comprido fez cócegas. Agora balão dizia palavras.
Cara sorridente andou e andou. Mundo afora ele andou e andou.
E chegou. Entrou. E eu vi, cabelos bonitos tinha, unhas azuis também.
Ou eram verdes? Passou para outra mão, e a cor da unha era a sua cor.
Cara sorridente fez sinal. Cabelos bonitos balançou-me e sorriu.
Apertou com força,
e aaaaaah, BOOM !
Dor... Um anel caiu no chão. Cabelos bonitos pegou o anel.
E balão estava em todo lugar. E ouvia, e o que ouviu eram risadas.
E via, e o que viu foi um beijo. E sentiu, e o que sentiu era amor.
Entendeu. Não mais desejou ter sido como os outros.
Afinal balão esquisito tinha lá sua utilidade.