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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ballon anacronism


Era uma vez um balão. Não tinha uma cor definida.
Parecia azul claro e às vezes,
quando se olhava contra a luz, jurava verde.
Ninguém mais era assim, eram vermelho, amarelo, preto,
branco, roxo, verde, rosa, azul, ou até cintilante.
Viviam num lugar escuro, sujo, cheio de ratos.
Talvez estoque de loja ou super mercado.
Balão não gostava, tinham que sussurrar e nada cheirava bem.
Passaram tempos e tempos,
não sabia ao certo, afinal balões não sabem contar.
Até que tiraram-nos dali.
Havia luz e sombras, sons e cheiros inusitados.
Alguém fez tudo sumir e só as sombras ficaram.
Havia movimento também e logo chegaram
a outro colorido e engraçado lugar.
Com coloridas e engraçadas pessoas.
Sentiu-se voando, pousou em um chão frio.
Todo mundo começou a ir até a boca
das coloridas e engraçadas pessoas.
E inchavam. Ficavam grandes, gordos e levinhos.
O balão continuava no chão frio.
Algumas vezes tentaram pegá-lo e achar uma utilidade.
Mais chão frio. Será que era tão esquisito assim? Inútil?
Pra que o teriam feito daquele jeito?
Nunca ia ficar bonito, gordo e levinho como os outros?
Não tinha respostas. E como teria, era só um anacronismo.
Ficou murchinho. Sentiu dor.
Ah, foi só porque o chutaram fora do caminho.
Ficou escuro de novo, tinha barulho. Muito barulho.
Aparentemente, era aniversário de alguém.
E nem pôde bater palmas no parabéns, não tinha mãos.
Queria chorar, mas não tinha lágrimas. Dormiu.
Estava claro, depois escuro.
A bola amarela e brilhante subia e descia
para dar lugar a bola branca e pálida.
Era dia, tinha certeza. Mas ficou noite. E depois dia de novo.
Olhava para uma cara sorridente. Ficou noite de novo.
Percebeu que era apenas o abrir e fechar da mão da cara sorridente.
Ia jogá-lo num lixo? Ai de mim com mãos pra socá-lo caso fosse.
Se bem que se contentaria apenas com pernas para fugir.
De repente começou a abrir-se e coisas passaram para o seu interior.
Ficou gordinho mas não levinho. Ao contrário, ficou pesado.
E então a cara sorridente levou-o a boca.
E soprou e soprou e soprou. Ficou gordinho, levinho e pesado.
E algo comprido fez cócegas. Agora balão dizia palavras.
Cara sorridente andou e andou. Mundo afora ele andou e andou.
E chegou. Entrou. E eu vi, cabelos bonitos tinha, unhas azuis também.
Ou eram verdes? Passou para outra mão, e a cor da unha era a sua cor.
Cara sorridente fez sinal. Cabelos bonitos balançou-me e sorriu.
Apertou com força,
e aaaaaah, BOOM !
Dor... Um anel caiu no chão. Cabelos bonitos pegou o anel.
E balão estava em todo lugar. E ouvia, e o que ouviu eram risadas.
E via, e o que viu foi um beijo. E sentiu, e o que sentiu era amor.
Entendeu. Não mais desejou ter sido como os outros.
Afinal balão esquisito tinha lá sua utilidade.

Um comentário:

  1. Muito massa o texto profundo e poético...que blog ein nao pare de postar já ta na lista dos "merecem" ser lidos...

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