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domingo, 22 de agosto de 2010

No viver é que se vive


Na poeira da estrada está a certeza do movimento.
Às vezes a vida passa como um borrão visto da janela de um carro.
Dias de inércia intelectual, amorosa, espiritual e física.
Mas caminha.
Alheio ao que se passa ainda caminha.
E não volta.
O futuro é ali, logo aqui na próxima esquina.
Faz-se uma curva; capota-se o carro.
Perde parte do que é, ou de alguém que ama.
Há o luto, escorre uma lágrima solitária.
Trafega no rosto ainda liso de juventude para morrer na mão que apoia.
Mas não há tristeza.
Há até uma pontada de felicidade, porque muda.
O que foi fica na lembrança e dá lugar ao novo.
Corpo e mente como nascente que refresca e renova.
E o tempo passa, o tempo é passarinho.
Livre, frágil e efêmero.
Na beleza de um momento estão reflexos da natureza do que se é.
Amigo, amante, íntimo.
Sonhador, idealista, de outro mundo.
Partes de um todo numa pintura sem moldura.
Estende-se a um infinito próprio, dentro de si.
Vê-se Deus na perfeição de cada pincelada.
Sem ver o quadro, sem conhecer o artista.
No mistério de viver, caminhar na estrada ou pintar o quadro, pensar sempre no próximo passo.
Viver é pular num abismo sem fim para se descobrir onde vai dar.
O belo e o exótico de mãos dadas, risada sarcástica da ironia.
Juntos ali, esperando dar as respostas às perguntas certas.

2 comentários:

  1. Amort gostou desse texto apesar de ter lido ele tarde...
    Amort tbm gostou de lost hermanos - Além do que se vê...

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  2. lost hermanos? os hermanos estão perdidos. kasioksaoiksaio'
    aprovado o bom gosto? fico feliz em lhe ser útil.

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